domingo, 10 de maio de 2009

Nada

Todos os dias, inúmeras pessoas que circulavam na rua Esperança viam um homem deitado na calçada. Às vezes, nem o viam, pois se enrolava em sacos e papelões e facilmente era confundido com pacotes de lixo. Quando não estava deitado, aparecia do outro lado da rua jogando uma pedrinha para cima e pulando em volta de si. Foi assim por muito tempo, anos a fio. Ele não pedia nada, não falava nada, não olhava para ninguém (ou se olhava, ninguém percebia). Como ficava boa parte do tempo deitado no chão, sua distração era apreciar os sapatos que por pouco não chutavam seu corpo estendido na calçada. Alguns transeuntes que passavam pelo local, chegavam a pensar em como aquele homem atrapalhava a passagem, inclusive, comentavam entre si a inconveniência. O dono de uma padaria próxima à morada daquele indivíduo alimentava-o com uma refeição ao dia.

Certa noite, uma ronda policial levou o sujeito embora porque estava nu. Nunca mais foi visto. Muitos sequer notaram sua ausência. O local onde ficava o sujeito logo foi ocupado por um cachorro. Graciosíssimo. Em poucos dias, uma senhora, que passava por ali regularmente, apiedou-se do cãozinho e o levou para casa, onde foi recebido com muita alegria por sua família.

2 comentários:

Edu O. disse...

para muitos um cachorro atrapalha menos do que pessoas. e agora ficou o vazio naquele lugar, o vazio do homem.

gostei tanto de teu blog que já colocarei como um dos meus favoritos

Andréia M. G. disse...

Edu, que bom que gostou daqui. Volte quando quiser! ;-)