domingo, 31 de maio de 2009

Ausência


Saia de casa antes de clarear o dia. Dirigia cerca de duas horas até chegar ao trabalho. Era o primeiro a chegar e o último a sair. Passava o dia inteiro em frente ao computador, cercado de planilhas e e-mails. Sempre gentil com todos, inclusive com aqueles a quem jamais convidaria para ir a sua casa. Ossos do ofício. Passava o dia inteiro ao lado de vários colegas e pouco sabia de suas vidas. Tampouco ele sabia da vida deles. Estavam quites. Muitas vezes, laconicamente, dizia apenas um bom dia e nem sempre encontrava resposta. Em um inverno, afastou-se do trabalho porque seu pai havia falecido. Ao retornar, nenhum colega confortou-lhe pela perda. Alguns nem sabiam o que havia ocorrido. Encontrou em sua mesa uma pilha de envelopes que o levariam à produção de novas planilhas. Certo dia, durante o expediente, sofreu uma parada cardíaca. Sua cabeça pendeu sobre a mesa na qual trabalhava. Seus colegas só notaram sua ausência três dias depois, quando a natureza começou a sinalizar que aquele corpo não pertencia mais a esta vida.

2 comentários:

Edu O. disse...

AI Anderéia, que retrato feio e verdadeiro vc conseguiu fazer. Medo de cada vez ficar pior.

Andréia M. G. disse...

Edu, eu me inspirei em uma notícia que uma colega recebeu por e-mail de um fato semelhante que teria ocorrido nos EUA, se não me falha a memória. Não sei se a história foi verídica, mas resultou nesse texto.