quinta-feira, 27 de agosto de 2009

...

Falo pouco de meu pai. Emudeço. Talvez ele seja o anti-herói de minha vida. Mas ainda assim reconheço nele algumas virtudes. Quero conseguir um dia desenvolver melhor essa página de minha vida que mantenho a maior parte do tempo escondida. Trocamos poucas palavras. Não me sinto amada por ele. Também não sei se o amo. Uma vez, sofreu um acidente e pensei que fosse morrer em meus braços. Naquele momento, um pânico se apossou de mim porque seria o fim de uma relação que nunca existiu como eu gostaria. Nunca entendi bem seus sentimentos. Acho que nunca amou ninguém, nem a si mesmo. Já deixou em mim muitas cicatrizes, não no corpo, mas na alma, e estas são as mais difíceis de apagar.

Acho que nos amamos... De um jeito torto, meio capenga, mas talvez sim.

domingo, 23 de agosto de 2009

“Ó, pátria amada, idolatrada, salve! salve!”

Dizem que o Brasil, apesar de suas mazelas, é um país abençoado por não ter guerras, furacões, terremotos, e por ainda ter uma natureza exuberante, apesar de toda a devastação que já sofreu. Eu me pergunto algumas vezes se realmente não existem guerras aqui. Vivenciamos furacões de violência, que tem crescido assustadoramente. Eu ando na rua sempre em alerta, segurando firma a bolsa. Tomo vários sustos quando pessoas passam de moto ou bicicleta perto de mim, pois sempre tenho a sensação de que vão tentar me assaltar. Meus passos são sempre acelerados. Quando estou dirigindo, a situação não muda muito. Continuo temendo as motos. Duas colegas recentemente presenciaram um assalto no trânsito cada vez mais engarrafado de Salvador, onde moro. Dois motoqueiros sacaram suas armas, renderam os passageiros de um carro e foram embora tranquilamente. Um dia desses, a polícia ameaçou fazer uma greve reivindicando melhores condições de trabalho e de salário. Os policias estão errados ou certos? Lembro-me de uma vez que fizeram greve há alguns anos e o caos se instalou na cidade. As pessoas se preveniam trancando-se em casa. Várias lojas foram saqueadas pelo povo que aproveitou a greve para roubar o que não podiam comprar.

Se ligo a TV ao meio-dia, só vejo programas popularescos e apelativos explorando as classes miseráveis. Até cadáveres estão sendo mostrados ao vivo. O sensacionalismo está “à flor da tela”. Onde vamos parar? Quando estaciono meu carro em algum lugar, muitas vezes retorno para conferir se as portas estão bem fechadas. Insegurança até a última potência. Conheço várias pessoas que foram tomadas de assalto, eu mesma já fui vítima algumas vezes, mas graças a Deus sem maiores consequências. Houve um tempo em que era moda receber telefonemas (ao que consta, feitos de penitenciárias) para tentar extorquir dinheiro das pessoas com a falsa notícia de que um parente havia sido sequestrado. Na minha casa, quase meu pai caiu no golpe. A imprensa noticiou vários casos de pessoas que foram vítimas dessa extorsão.

Em todas as campanhas políticas, os candidatos colocam na pauta de seus projetos a melhoria da segurança pública, no entanto o que vivenciamos é a insegurança completa. E o que dizer? Enquanto o Congresso Nacional continuar parecendo um circo e as pessoas não exercerem os direitos que a democracia lhes permite, será difícil pôr fim à violência urbana. Mas eu gosto de meu país assim mesmo. Acredito que somos de um modo geral realmente um povo cordial. Boa parte dos brasileiros tem um espírito alegre e esperançoso inato. Como diz o chavão: “Sou brasileiro e não desisto nunca”. Nosso 7 de setembro vem aí. Dia da independência do Brasil. Independentes de Portugal, sim, mas dependentes de muitas outras coisas. Em várias cidades do Brasil as Forças Armadas vão desfilar pelas ruas. Alegres e retumbantes. Os bandidos do narcotráfico estão bem mais armados do que nossas Forças Armadas... E um soldado, quanto ganha mesmo? Psiu... Faz vergonha falar. Mas aí já é outro papo. Salve! Salve! Salve-se quem puder!

(Imagem: Google)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Fuga

Hora de apagar as luzes, fechar as janelas e as cortinas. Despedir-se do dia para dar chance ao nascer de outro. Silêncio fora e balbúrdia dentro. Momento de sonhar, de entregar-se a Morfeu, poder ser quem quiser, onde quiser, com quem quiser. Passear descalço na grama úmida do orvalho. Mergulhar no oceano e nadar com golfinhos, voar de asa-delta, atirar-se do vigésimo andar e voar, livre, para longe. Para onde ninguém saiba quem você é, para onde não seja possível fazerem perguntas para respostas que você não tem ou não quer dar. Você dorme e as estrelas vigiam seu sono, que nem sempre é tranquilo. Você costuma sonhar que alguém te persegue e quer lhe fazer algum mal e você foge. Costuma subir escadas, andar em labirintos, adentrar a relva e se esconder do perigo. Você sempre consegue escapar, mesmo quando o perigo está iminente. E quando a lua cede lugar ao sol, você se despede de Morfeu e volta ao mundo físico. A realidade o espera, mas não fuja mais. Sua vida parece uma eterna fuga e você nem sabe de que tanto foge. Precisa aprender a acender as luzes, escancarar portas e janelas, olhar ao redor e ser feliz.

domingo, 16 de agosto de 2009

Vermelho

Os sapatos vermelhos na vitrine eram alvo de seu desejo. Eram de um vermelho brilhante e sedutor. Mas não bastava a beleza, era preciso o conforto. Havia um desfile de cores na vitrine. Outro vermelho lhe chamou a atenção. Uma bolsa que combinaria bem com aqueles sapatos, mas não valia o preço que custava. De que valeria pagar caro por uma bolsa que não valia tanto e calçar sapatos que lhe matariam os pés? Mas a atração pelo vermelho era mais forte do que o bom senso. Entrou na loja e experimentou os sapatos. Como já previa, não eram nada confortáveis, andando alguns metros ganharia alguns dolorosos calos. Pediu para ver a bolsa. Constatou o material frágil, que rasgaria em pouco tempo. Mas ambos, sapatos e bolsa, tinham um vermelho encantador que lhe enchia os olhos. O vendedor esperava ansioso e tentava convencê-la da compra. Mas ela resistiu. Até pensou naquele homem e no tempo que lhe havia tomado, porém seguiu os conselhos de seu avô: Cada um sabe onde lhe aperta o sapato.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Senso de humor é preciso

(...)

No reconhecimento do humor não há equívoco. Ou existe ou não existe e seu portador sabe disso, o portador e os que estão em redor. Tente fingir bom humor perto de uma criança. De um cachorro. Faça aquelas caras, a voz postiçamente mansa. O cachorro vem, fareja os fluidos, sente o peso da aura - uma barra - e vai saindo com o rabo entre as pernas. Bom humor é charme e as pessoas querem ser charmosas, os políticos em primeiro lugar, não é com vinagre que se apanha mosca. Mas se esmerando embora na representação, é difícil para o fingidor sustentar por muito tempo a máscara do bom humor, o mascarado se cansa e acaba se descobrindo.

(...)

Em seu estado puro, o senso de humor não é negro nem vermelho nem azul mas tem as sete cores do arco-íris numa faixa só. Nem erótico nem puritano, não tem implicações de ordem ética mas estética, o bem-humorado é um esteta. Uma filosofia de vida? Digamos, uma doce filosofia que nos permite vislumbrar uma certa graça nas coisas desengraçadas. Sem sarcasmo, que o sarcasmo é cruel. Sarcasmo é veneno. E o senso de humor é que nos impede de virarmos uma esponja de fel, a casa pegou fogo? O louco bem-humorado dá uma volta em torno, tira o cigarro do bolso que não existe e acende o cachimbo numa brasa do fogão. (Lygia Fagundes Telles, em "A disciplina do amor")

Porque é preciso ter muito senso de humor nas relações humanas...

domingo, 9 de agosto de 2009

Sobre histórias

Uma coisa é certa. Eu adoro histórias. Gosto de contá-las, ouvi-las, vê-las, criá-las. Não é à toa que gosto tanto de ler, que gosto tanto de filmes. Porque neles, nos livros e nos filmes, há histórias, personagens, fantasias e realidades. Porque provocam em mim sentimentos. Gosto mais das histórias profundas, que me fazem chegar às lágrimas, que quando fecho a página do livro ou quando o letreiro do filme corre na tela, a história fica. E como fica. Escrevo este post sob efeito do filme O Leitor, que acabei de assistir. Dois trechos dele me tocaram bastante: um deles é sobre o amor, que eu, como incansável guerreira deste sentimento, não poderia deixar que passasse despercebido: Only one thing can make a soul complete and that thing is love (Apenas uma coisa pode tornar uma alma completa e essa coisa é o amor). A frase é curta, mas é certeira e ficou em minha mente assim, em inglês. O outro trecho é sobre literatura: A noção de segredo é o centro da literatura ocidental. Pode-se dizer que toda a ideia do personagem é definida pelas pessoas que têm escondida uma informação em especial, que, por vários motivos, às vezes são perversos, às vezes, nobres, mas que estão determinados a não se revelar.

Em O Leitor, a personagem Hanna, mulher que se envolve com um garoto 20 anos mais novo do que ela, guarda um segredo. Se seus motivos são nobres ou não, cabe a cada "leitor" dessa obra lhe dar uma sentença.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

De repente, estranhos

Conhecem-se, enlaçam-se, amam-se. O tempo passa, a paixão aflora. O tempo passa, a paixão decresce. O amor muda ou murcha, desvai-se. Os dias sempre compartilhados já não têm mais a presença daquele com quem por tanto tempo se dividiu a vida. A pessoa com quem se dormia e acordava todos os dias passa a ser aquela de quem se quer manter distância. A família também se afasta porque é uma parte daquele outro que agora incomoda. Tudo é distância. Estranhamento. Encontram-se na rua e trocam sorrisos mornos, fugidios. Estabelecem diálogos vazios, frios. Ensaiam uma intimidade forçada, falsa, mas percebem que passaram do extremamente profundo à superfície. Trocam telefones, mas sabem que a ligação nunca se realizará, nem por um, nem por outro. De repente, estranhos.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sem palavras


Pensei em escrever aqui um agradecimento enorme a todos que estiveram comigo no dia do meu aniversário, mas além da maioria deles não frequentar a blogosfera, me faltam palavras para registrar a felicidade que senti em ver que mesmo em meio a algumas adversidades, consegui reunir pessoas muito queridas, que aqueceram demais meu coração. Compartilho com os leitores deste blog o carinho indescritível que tenho por elas.