domingo, 27 de setembro de 2009

História de meninas

Ela tinha apenas 13 anos e muitas ideias na cabeça. Gostava de Fanta Uva, de videogame e de conversar com as amigas. Ele tinha 22 anos, jovem em início de carreira, não muito promissora, dirigia a combe que servia de condução escolar para algumas crianças e adolescentes do bairro. A menina de 13 anos era mais desenvolvida do que as outras garotas de sua idade. Na aula de educação sexual na 4ª série tornou-se o assunto dos corredores depois de revelar que já tinha menstruado aos 9 anos. Uma moça relativamente precoce. Alisava os cabelos com amônia, pintava as unhas de vermelho forte, sempre andava de batom, usava sutiã e tinha seios para preenchê-los. Se assim era aos 9, imaginem aos 13. Parecia uma pequena mulher. Para o rapaz de 22, a idade dela não fazia a menor diferença. E assim, começaram o namoro. Bem, o rapaz tinha 22 anos, então, o namoro deles era um pouco mais avançado do que os namoros de garotas e rapazes da idade dela. Havia sexo. Muito sexo. E... por imaturidade dela e precipitação dele, ou sabe-se Deus o quê... A mocinha ficou grávida. Isso foi no verão. Talvez o calor tenha colaborado.

Sua melhor amiga sabia apenas que ela estava namorando um rapaz mais velho, mas sequer sonhava que o namoro já tinha tomado rumos mais profundos. Quando engravidou, a menina de 13 anos não contou nada a sua amiga. Na verdade, não contou nada a ninguém. Mas sua mãe descobriu. As mães sempre descobrem. Para os moldes da época e daquela família, só havia uma solução: o casamento. Então, a menina de 13 anos agora era uma mulher e não só isso, também estava prestes a se tornar uma mãe de família. Assim foi. Depois das férias de verão, a menina não retornou à escola. Sua melhor amiga tinha poucas notícias dela. Na verdade, andava magoada porque há muito tempo a amiga não ligava mais. No retorno das férias, uma colega, vizinha da menina de 13 anos, perguntou a sua melhor amiga, que já não era tão melhor assim, se ela tinha ido ao casamento e se sabia para quando era o bebê. A antiga melhor amiga ficou chateada. Apesar da amizade entre aquelas meninas não ser mais a mesma de outrora, gostava dela e não iria permitir que denegrissem sua imagem. No ginásio, era muito comum criarem fofocas, mas já estavam indo longe demais.

Naquele mesmo dia, ligou para a ex-melhor amiga e falou sobre o que havia ocorrido na escola. Para sua surpresa, a menina de 13 anos, agora mulher, mãe e dona de casa, revelou sua maternidade e casamento precoces. A outra menina também de 13 anos foi tomada por um sentimento de ter sido traída pela amiga, mas apesar da pouca idade, entendia um pouco o sentimento dela. Tinha vergonha. A mulher de 13 anos abandonou a escola na 7ª série. As amigas se falaram bastante tempo por telefone, mas nunca mais se encontraram. Nas conversas, a mulher de 13 anos fazia queixas do marido.

Muitos anos depois, as meninas, já mulheres as duas, se encontraram em um shopping. Quase não se reconheceram. A antiga mulher de 13 anos estava acompanhada de uma bela moça de 15. A jovem era sua filha. 15 anos já haviam se passado. A outra antiga menina de 13 anos ainda não tinha filhos. A antiga mulher de 13 anos não teve mais nenhum. Tinha se separado há pouco tempo do marido, queria voltar a estudar e recuperar a juventude perdida. O marido? Depois de várias traições com outras meninas que levava no transporte escolar, acabou saindo de casa para assumir a gravidez de uma delas. Coincidência ou não, também tinha 13 anos. Mais nova do que a filha que teve com a menina-mulher desta história.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Diferenças

Mesmas profissões, diferentes corações. Uma é cercada por muitos e conhece todos pelo nome. Outra é cercada por poucos e não sabe o nome de nenhum. Uma fria, gelada. Outra calorosa, solidária. Uma quer ser simpática, mas não consegue. Ri sozinha. Outra respira simpatia. Ri com coro. Uma nem quer ouvir seu problema. Insensível. Outra não só ouve como aconselha. Humana. Com uma joio e trigo se misturam. A outra sabe bem a distinção.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Redemoinho

Um redemoinho passou por aqui. O vento voraz e furioso avançou contra tudo. Remexeu minha vida e deixou um monte de destroços. E agora? Onde estão minhas coisas preciosas? Não consigo encontrar mais nada. Ficou tudo revirado. O vento desmanchou meus cabelos, levantou corpos, arrastou roupas e dissipou-se. Eu que tinha tudo em seus lugares. Eu que tinha a ordem no comando. Agora restou bagunça, desordem, confusão. Se tivesse sido ontem, já estaria pondo tudo em seu lugar, mas hoje, já nem sei mais qual é o meu lugar no mundo, imagine o lugar das coisas. Deixe estar. As coisas se acham. Parece que o redemoinho também passou em mim.

P. S. : Lembrem-se de que ficção tem um pouco de confissão, da mesma forma o contrário.

(Imagem: Google)

sábado, 12 de setembro de 2009

Notícias de mim

Vou ser breve. Estou com catapora. Não é NADA bom! Eu mesma estou com dó de mim. Dos espelhos, amigos queridos, quero distância por enquanto. Escapei dessa quando criança, mas agora fui vencida pelo vírus. Tem nada não, eu darei a volta por cima.

Deixo aqui alguns registros do meu último fim de semana para me dar energias positivas. Bem melhor que catapora.

(As fotos foram tiradas na Praia do Forte. A lagoa fica dentro da Reserva da Sapiranga - fomos até lá de quadriciclo, por isso os capacetes. Foi bom demais!)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A menina de asas

A menina nasceu com asas, mas ninguém a ensinou a voar. À noite, sonhava com vôos longínquos. Percorria todas as partes do mundo com as asas bem abertas. Começou a observar as aves e assim aprendeu a voar. No começo, batia as asas timidamente e fazia vôos rasteirinhos, quase não saia do chão. Gostava de subir em árvores. Quando estava triste, era lá que se escondia. À medida que crescia, também crescia sua vontade de conquistar o céu. Mas tinha medo de se perder e não encontrar mais o caminho de casa. Gostava de dias de chuva, daquelas que deixam depois um arco-íris. Seu maior sonho era atravessar aquelas cores. Queria ver se existia um pote de ouro no final, como leu em um livro. A menina lia muitas histórias. Tinha vontade de fazer parte delas. Gostava muito da história do Peter Pan. Queria ser a Sininho e bater suas asinhas livre por todos os lados. Quando já não era mais tão menina, resolveram aparar suas asas para que ela não subisse mais em árvores. Não era adequado para uma mocinha, diziam. Não gostava que cortassem suas asas e começou a ficar rebelde. Num dia de casamento da chuva com o sol, abriu a janela e viu de longe um arco-íris. Sem pensar muito, alçou um vôo bem alto, entrou pelas nuvens, misturou-se às cores difusas daquele arco e de lá não voltou mais. Deve ter encontrado o pote de ouro.

(Imagem: Google)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Intimidade

A intimidade intimida
pois nem sempre é bela
e raramente é falada
de peito aberto.

A intimidade é para poucos,
é para aqueles que não julgam
e que não destroem
com um olhar a fantasia.

A intimidade intima
à verdade
à dor, à culpa,
ao medo de não ser mais.

A intimidade não perdoa,
pois se intitula real,
traz conflitos, paradoxos,
sonhos esquecidos.

A intimidade se mostra
na despretensão de ser o que se é,
na crueza da alma,
na palavra perdida.

(Adriana Roitman)

Sim, a intimidade é para poucos... A mim, intima mais do que intimida, aconchega.