"Numa folha qualquer eu desenho um sol
amarelo / E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo / Corro o lápis em
torno da mão e me dou uma luva / E se faço chover com dois riscos tenho um
guarda-chuva / Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel / Num
instante imagino uma linda gaivota a voar no céu / Vai voando, contornando a
imensa curva Norte e Sul / Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul /
Pinto um barco a vela brando navegando / É tanto céu e mar num beijo
azul..."
Na praça de Sultanahmet, em frente à Mesquita Azul
Ah, Toquinho, se soubesse quantas fantasias criei
em torno dessa linda canção na minha infância... E que lugar tão distante cheio
de castelos imaginava ser Istambul... Um lugar mágico que fez parte do meu
imaginário infantil e renasceu este ano com tanta força que por uma série de
motivos me atraiu para aquele lugar. Enfim, conheci Istambul e não somente essa
cidade encantadora, mas também outros belos lugares da Turquia. As experiências
que vivi foram tão especiais que guardarei eternamente em meu coração. Um lugar
que sempre pareceu tão distante e de repente vi diante dos meus olhos com todo
seu esplendor, sua magia, seus encantos.
Mergulhei nos livros de História e Geografia,
atravessei a ponte do Bósforo, estive com um pé na Ásia e outro na Europa em
poucos minutos, vivenciei a comunicação em vários idiomas, experimentei vários
sabores, cores, sons, voei a mais de 800 metros de altitude num balão mágico!
Incrível! Fantástico! Maravilhoso! Sensacional! Coisa de Deus! Não há palavras
para descrever a magia que vivi naquele momento.
Passamos 10 dias na Turquia e não deu para
conhecer tudo que gostaríamos (meu noivo e eu), mas nossa programação foi
intensa! Do que visitamos, deixo aqui alguns relatos para ajudar aqueles que
queiram conhecer:
Hotéis em
Istambul: Os melhores em termos de proximidade dos principais pontos
turísticos ficam na área de Sultanahmet, mas nosso pacote de viagem incluía um
hotel mais afastado, o Titanic Business Bayrampasa. Não recomendo por ser
afastado e não ter nada de interessante ao redor, mas se quiserem conforto,
café da manhã farto, piscina aquecida, SPA... esse é o hotel ideal.
Dinheiro:
A moeda local é a lira turca e não pense em levar reais brasileiros para trocar
por lá, porque não encontram. Trocamos reais por euros aqui e lá trocamos de novo
pela lira turca. Há várias casas de câmbio nas áreas turísticas e alguns
passeios podem ser pagos em euros ou dólares. Optamos por usar somente o
dinheiro local, com exceção do balão, que pagamos em euros (150 euros. Caro,
mas muito bem pagos). Atualmente, a lira turca equivale a quase o mesmo valor
do real.
Costumes:
Vi gente de todo tipo, como diria minha vó, mas é notório que os costumes de lá
são diferentes dos brasileiros. As mulheres se vestem de forma mais recatada de
um modo geral, mas não são todas que cobrem os cabelos com lenços, pelo menos
na área mais cosmopolita onde ficamos. Mas também vimos
algumas mulheres de burca que nem os olhos colocavam para fora. Não consigo
entender como uma mulher pode se submeter a essas tradições, religiões ou sei
lá o quê, mas cada qual com seu cada qual... Várias vezes ao dia ouvimos um
chamamento para rezar vindo das mesquitas, muito emblemático do local. Acho que
vou ouvir aquele som sempre que me lembrar da Turquia.
Guias:
Em Istambul seguimos sem guias turísticos e dá para fazer isso perfeitamente,
basta saber falar inglês que dá para se virar. Eu que não tenho fluência, mas
entendo bem a língua e falo razoavelmente me virei sem maiores dificuldades.
Digo isso porque falar turco é bem mais complexo, mas ainda assim, levei um
guia de sobrevivência e arranhei alguma coisinha bem elementar. Fora de
Istambul, tínhamos acertado pela agência de viagens um guia em espanhol e como
eu também já estudei essa língua, foi supertranquila a comunicação. Encontrei
muitos turistas brasileiros por lá e guias que falavam português também. Na
falta de guia, GPS é bem útil para ajudar na localização. Nas atrações
turísticas existem os audioguias. Basta colocar o fone de ouvido, escolher sua
língua e um abraço. A maioria não tem a opção em português, mas espanhol e
inglês sempre se encontra.
Alimentação:
De um modo geral, gostei das comidas. Meu noivo que é cheio de restrições
alimentares que não gostou muito. Os preços são razoáveis, os doces diferentes
e açucarados (não usam leite condensado), vendem na rua muito suco de romã,
castanhas, nozes, pistaches. Carne de carneiro por todos os lados nos kebaps. Comi um
delicioso com molho de iogurte. As pizzas e pães também são gostosos. Não
experimentei coisas muito diferentes, algumas pareciam bem gordurosas e não quis arriscar demais.
Transportes:
Não usamos transportes públicos, mas pelo que vi são todos integrados, bondes,
ônibus, trens. O trânsito é meio conturbado, com muitos engarrafamentos, até dia
de domingo, mas não se compara ao caos da cidade onde moro. Pegamos alguns
táxis e só tivemos problemas com um taxista que descaradamente adulterou o
taxímetro, mas deve ser um pobre de espírito e isso não nos abalou. Depois
disso, só pegamos em pontos de táxi ou na frente do hotel e correu tudo bem.
Eles não falam inglês e a comunicação tinha que ser em turco ou mímicas, mas eu
desenvolvi a técnica de escrever em um papel para onde queríamos ir, dizer
gentilmente lütfen (por favor) e mostrar ao taxista o destino. Pronto, ele já
sabia que não falávamos turco e seguia sem muitos papos até o destino. Alguns
perguntavam de onde éramos, em turco misturado com inglês e quando descobriam
que éramos brasileiros, falavam logo de futebol e de um jogador chamado Alex, do time Coritiba. Como não curtimos futebol, ficávamos “boiando” na
conversa. Depois meu pai falou que ele jogou pelo Fenerbahçe, time turco.
Parece que idolatram a criatura pela forma como falavam dele. No comércio também ouvimos muito o nome dele. Os turcos são loucos por futebol, fato. Um vendedor no Grand Bazaar nos mostrou todo eufórico uma foto dele com Taffarel, nosso ex-goleiro da seleção brasileira.
Passeios:
Em Istambul, à noite, nosso destino certo era a rua Istiklal, para os turcos Istiklal Caddesi. Uma rua de cerca de 2
km que desembocava na praça Taksim,
que tanto foi falada este ano por causa das manifestações antigoverno ocorridas
há alguns meses. A Istiklal tem movimento dia e noite, de domingo a domingo,
com muitas lojas, restaurantes, tudo! Nas transversais também encontramos
movimento. Não sei descrever ao certo o que me atraiu nesse lugar, mas o certo
é que “batemos ponto” lá quase todas as noites em Istambul. Em Sultanahmet, visitamos a Mesquita Azul, uma das mais
emblemáticas, e a Aya Sofia, que
ficam uma de frente para a outra. Lindas! Trabalhos artísticos divinos nos
tetos, azulejos belíssimos, história riquíssima. Na mesquita, tivemos que
entrar descalços e as mulheres com as cabeças cobertas. A Aya Sofia já foi
mesquita, já foi igreja e hoje é um museu. Entrada: 25 liras turcas. Também
passamos pelo antigo Hipódromo. Não
deu tempo de visitarmos as Cisternas da
Basílica, que ficavam a poucos metros, pois preferimos pegar um ônibus para
fazer um city tour e atravessar o estreito de Bósforo para a parte asiática de
Istambul, o que nos deu um bom norte da localização de todos os lugares que
ainda pretendíamos visitar. Pegamos o ônibus na praça de Sultanahmet, o passeio
durou cerca de 2 horas. Não me recordo quanto pagamos.
Istiklal Kaddesi
Aya Sofia
Estreito de Bósforo
Ainda em Istambul, conhecemos o Palácio Topkapi e seu harém, que nos
custou 25 liras + 15 liras do harém. Nesse palácio viviam os sultões e há muita
riqueza exposta lá dentro. Fiquei apaixonada pelos tetos, vitrais e azulejos.
Trabalhos belíssimos que resistem há séculos. Espetacular! Queríamos ir também
ao Palácio Dolmabahçe, mas as filas
para entrar eram muito grandes, tudo demorava demais e deixamos para outra
oportunidade. Imagino na alta estação como deve ser nesses lugares, haja
turistas de todas as partes do mundo.
Então, ficamos no Topkapi mais um tempo e desfrutamos de um delicioso almoço
dos deuses no restaurante Konyali
com vista para o mar de Mármara. Lindíssimo lugar! Comida de primeira
qualidade! Nos sentimos como os sultões!
Entrada do Palácio Topkapi
Vista do restaurante Konyali
Um dos tetos do Harém
Comprinhas também são bem-vindas, então fomos
conhecer o Grand Bazaar e o Mercado de Especiarias ou Bazar Egípcio caminhando (com
disposição dá para ir tranquilamente). Há de tudo um pouco nesses mercados,
vendedores que falam todos os idiomas para captar os clientes, você se perde no
meio de tantas coisas. Quem gosta de fazer umas comprinhas, são lugares
indispensáveis para ir. Na saída de um desses mercados, visitamos a Mesquita Nova, mas eu não pude ficar
muito tempo lá dentro, porque o lenço que coloquei na cabeça estava
escorregando e fui convidada a me retirar do recinto... Nas mesquitas, há um
lugar reservado no fundo para as mulheres rezarem, não podem se misturar aos
homens. Ser mulher é para fortes, ainda mais nesse lugar...
Bazar Egípcio
A Torre de
Gálata tem uma das melhores vistas da cidade e não poderia faltar em nosso
roteiro. Istambul em 360°. Para subir, mais fila e 13 liras turcas. A vista de
lá é magnífica, dá para ver a ponte de Gálata, onde é comum ver homens
pescando, a ponte do Bósforo, algumas mesquitas, o lado europeu e o lado
asiático da cidade. Na torre eu me vi na música de Toquinho, pois havia algumas
gaivotas a voar no céu... Lindo! Uma pousou bem pertinho de mim...
Gaivota na Torre de Gálata
Como meu parceiro de viagem é vidrado em
shopping, fomos conhecer o Cevahir,
que já foi considerado o segundo maior da Europa, pelo menos li isso em algum
lugar. Um shopping como outro qualquer, lotado, não tinha lugar nem para
sentarmos em uma das praças de alimentação. Encontramos até uma C&A por lá
e se não soubesse que estava na Turquia, me sentiria em casa totalmente, quer
dizer, nem tanto, porque as roupas tinham modelos um tantinho diferentes dos
nossos, meio cafonas, diria. Para entrar no shopping passamos por detector de
metais. Nunca tinha passado por essa situação em um shopping. Talvez eles
tenham receios de ataques terroristas, mas achei bem válido. Poderia ser
adotado no Brasil.
Cevahir Shopping
O post já está imenso e ainda nem saí de
Istambul! Vamos à Esmirna, Éfeso e Pamukkale. Saímos de Istambul a Esmirna, onde visitamos as ruínas
da antiga cidade de Éfeso. No caminho, conhecemos o Templo da deusa Artemis. Quando entrei em Éfeso me senti nos livros
de História, parece que entrei na máquina do tempo. Vimos o Templo de Adriano e seu suntuoso teatro, a Biblioteca de Celso e muito mais. Curiosamente em Éfeso encontramos
muitos gatos, aliás, há gatos em toda a Turquia pelo visto e os encontramos nos
lugares mais inusitados. Depois desse mergulho na História, conhecemos o lugar que
mais me encantou durante toda a viagem: Pamukkale,
o castelo de algodão. Que lugar abençoado por Deus! Pedras calcárias,
branquinhas, com deliciosas cascatas de águas termais. Fiquei fascinada por
esse lugar! Vi o sol se por em Hierápoles,
cidade balneária romana edificada sobre as cascatas. Dizem que lá há a maior
necrópole do mundo antigo, mas a beleza de Pamukkale me prendeu tanto a atenção
que não segui a guia para a necrópole.
Entrada de Éfeso
"Guardião" de Éfeso
Pamukkale
Passamos uma noite em Esmirna, num hotel top de
linha, mas estavávamos tão cansados (pegamos muita estrada para visitar esses lugares) que nem memorizei o nome do hotel. Só me lembro
que estava repleto de orientais! rs
De lá, seguimos a Konya, no centro da Anatólia (parte asiática da Turquia). É uma
cidade bem interessante, organizada, com várias casas com aquecimento solar e
parecem ter boa qualidade de vida. Lá conhecemos a filosofia de Mevlana, filósofo místico que difundiu
o sufismo e criou a ordem dos Derviches rodopiantes.
Vimos uma apresentação dos Derviches em Istambul. Eles reproduzem uma dança na
qual rodam em torno de si. Pelo que pude entender, os derviches são como
monges, que seguem uma filosofia de abnegação e praticam com a dança rodopiante
uma espécie de ritual. No Museu de Mevlana,
conhecemos um pouco de sua história e visitamos sua tumba, pena que não pode ser
fotografada.
Museu de Mevlana
A caminho da Capadócia,
conhecemos uma cidade subterrânea com
habitações trogloditas com profundidade de 45 metros. Na região de Konya e
Capadócia, ficamos hospedados no Dinler
Hotel, também de excelente qualidade. Na Capadócia, o melhor estava por
vir... O voo de balão! Assim como
quando fui a Rio de Janeiro, tinha o propósito de voar de asa-delta, na
Capadócia, voltaria frustrada se não tivesse conseguido voar de balão. E voei,
bem alto, com uma paisagem deslumbrante. Os balões formaram uma aquarela diante
dos meus olhos, a aquarela cantada por Toquinho materializada bem ali. Fiquei anestesiada de emoção.
Entrada da cidade subterrânea
Vista do balão: aquarela dos meus sonhos!
Um brinde à felicidade!
Na Capadócia, nos divertimos muito no Vale do Goreme, onde conhecemos igrejas
escavadas nas rochas, com afrescos ainda preservados, mas que não podíamos
fotografar. ‘Roubei” uma foto deles meio apagadinha que parecia ser o desenho
de São Jorge. Havia muitos brasileiros visitando o lugar, me senti em casa. Eu
não vi um capítulo sequer da novela Salve Jorge, mas certamente as viagens ao
local foram impulsionadas por causa da novela. Muita gente me pergunta se o que
me motivou foi isso, mas meu caso de amor com esse lugar é antigo. A “culpa” é
de Toquinho.rs
São Jorge
Vale do Goreme
A região é linda, as formações rochosas são um
espetáculo à parte. Visitei também o Vale
Çavusin, Pasabag, onde vi o que é conhecido chaminés de fadas, pois as
formações rochosas lembram cogumelos. Por momentos eu vi as casinhas dos
Smurfs. Momentos de infância em grau máximo. rs
"Casa dos Smurfs"
Ainda conhecemos o trabalho de artesãs locais em uma
oficina onde fabricam os famosos e caríssimos tapetes turcos. São lindíssimos, mas os valores são bem salgados!
Visitamos também um local onde vendem couro e jóias.
Momentos
mágicos, eternizados na memória. Aquarela dos meus sonhos!
Proteção!
Güle güle!
Nosso retorno para casa
foi bastante desgastante, com direito a atraso de voo, perda de conexão, passar
a noite em Londres, seguir em outra companhia aérea para Lisboa e de lá seguir
para nosso lar, doce lar e descobrir que nossas malas não vieram conosco, o que
gerou um certo estresse, mas boa parte do problema já foi solucionado e o que
resta agora é agradecer a Deus pela oportunidade de ter vivido essa experiência
maravilhosa. Teşekkür ederim!