quarta-feira, 29 de julho de 2009

2.9

Sexta-feira é meu aniversário. Já escrevi por aqui sobre o retorno de Saturno, inquietações na alma, que estão relacionados à chegada dos meus 29 anos. Era como se um sino badalasse e dissesse: Andréia, você está quase chegando à casa dos trinta. Precisa correr. Hoje, faltando apenas dois dias para a chegada do ciclo dos 29, não sinto mais vontade de correr. Correr para quê? Isso não significa que eu pretenda ficar parada, até porque definitivamente não faz parte de minha personalidade. Mas não pretendo correr para alcançar coisas que a sociedade cobra de mim. Nem eu mesma tenho me cobrado tanto ultimamente. Hoje, só tenho vontade de correr em busca de mais felicidade. E correr logo também para que chegue sexta-feira e eu possa comemorar com pessoas queridas mais um dia especial.

domingo, 26 de julho de 2009

Chuva com chocolate


Chuva grossa e coração latente. Para ele, não havia obstáculos que o impedissem de estar por alguns momentos com ela naquela noite. Sentados à mesa, com as roupas molhadas, bebiam chocolate quente e comiam um pedaço de torta coberta de ameixas. Várias vozes soavam no lugar onde havia pessoas agasalhadas que também tiveram coragem de enfrentar a chuva. Não sabia os motivos que as levaram até ali, mas para ele o motivo eram aqueles belos olhos grandes e negros que estavam à sua frente. Sentia um frio cortante debaixo do casaco fino que vestia. Ouvia o uivo do vento, forte e intenso, mas não tanto como o tumulto que estava sua alma. Conversaram muito naquela noite e fizeram um brinde com suas xícaras de chocolate. Perdido nos olhos dela, ele estava completamente encantado. As gotas de chuva pareciam pedaços de chocolate.

(Imagem: Google)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre baratas e borboletas

A personagem de Clarice Lispector comeu uma barata em A paixão segundo G.H. A de Kafka virou uma ou um inseto muito parecido em A metamorfose. E você? Será preciso comer ou se tornar uma barata para entender um pouco melhor sua vida, sua existência?

Eu prefiro virar uma borboleta com asas bem coloridas. Comer a massa deseja de uma barata? Nem pensar. Só se for morango com chocolate. Essa é a minha melhor terapia. Assim, a vida fica mais doce.

(Imagem: Google)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Onde estão os pombos?

Perto da casa de um velhinho, havia uma praça frequentada por vários pombos. Uma revoada de pombos todos os dias. As crianças brincavam com eles. Havia mais pombos do que crianças. O velhinho sentava na praça, comprava pipoca e jogava aos pombinhos, que se aglomeravam para disputar o lanche.

Com o tempo, a praça ficou moderna, com fonte luminosa, pistas de corrida e recreação. Um complexo de bares e restaurantes foi construído na área antes ocupada pelos pombos. Alguns deles ainda resistem e disputam com os carros um lugarzinho perto da fonte. As crianças ainda lhes fazem cortesia, mas a presença deles tem diminuído bastante. O que se vê agora são suas carcaças. Vários são atropelados por dia. As pessoas passam por suas carcaças, que esturricam ao sol até serem levadas pelo vento. Algumas nem reparam que há um pombo morto no chão.

Por quê?

Por que escrevemos blogs? Por que lemos blogs? O que traz você à minha página? O que me leva à sua? O blog é uma forma de se fazer existir no mundo? E se ninguém ler este post? Quantas pessoas leem que eu nem conheço, entram, leem e vão embora. Quantos blogs eu acesso e também não digo nada. Leio e vou embora. A alguns eu retorno, outros nunca mais vejo, em alguns eu comento. Por quê? Criei vício com o twitter agora. Uma amiga disse que parece um pinto que pia em nossa cabeça twit, twit, twit. E parece mesmo. É um depósito de pensamentos, talvez... Por que será que essas coisas são tão atrativas? Por que estou aqui escrevendo sobre isso, fazendo metalinguagem? Quando viajo, não sinto falta de nada disso. Por quê? Vá entender...

sábado, 18 de julho de 2009

Amor perfeito

Talvez tenha demorado um pouco para descobrir o que é um amor perfeito. Sempre buscava isso no sexo oposto, naquele que para mim seria o homem da minha vida. Hoje, acho que entendo um pouquinho mais do amor, mas o amor perfeito passa longe de estar nesse sexo oposto. O amor perfeito para mim é o que sinto por minha mãe e ela por mim. Não sei quando o beijo de boa noite cessou nem o porquê, mas eu gostava tanto! A gente cresce, os carinhos da infância muitas vezes vão embora, mas o amor fica. Seguramente digo, sei e sinto que ela é a pessoa que mais amo nesta vida, a quem devo absolutamente tudo que sou. Ela me diz que sou seu ouro em pó (não sei por que diz em pó...).Minhas conquistas são dela e as dela são minhas. Deseja meu sucesso incondicionalmente. Quando engravidou de mim, disseram-lhe que eu não deveria nascer. Ainda bem que ela me deu essa chance. E não apenas me deu a vida como sempre fez e faz tudo para me ver feliz. Neste mês, ela completou 60 primaveras de bondade, amizade e amor, muito amor.

Te amo, mainha!

(Imagem: Google)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Flor aberta

Vivaz. Presença marcante por onde se apresenta. Desembaraço pleno. Simpatia absoluta. Exageradamente alegre. Sua energia irradia o ambiente. Senta-se em frente à tela, mas logo se levanta. Baila entre os papéis. Posa para fotos. Gosta de movimento. Conversa com todos e quando não há ninguém, conversa consigo mesmo. Sorriso fácil, leve, escancarado. Seu olhar brilha. O branco alimenta sua paz.

Flor murcha

Grávida. Envolta entre os papéis naquela mesa torta. À sua frente a tela que sempre a acompanha. Telefone, fax, e-mail. O bebê cresce em seu ventre, mas ela nem percebe. Incômodo pelo peso que carrega. A sala cheia, com vozes e risos alegres. Movimento constante e ela virando páginas de livros. Dedos nervosos no teclado. O tempo é curto. Estão ali, ela e seu feto, imperceptíveis. Fala timidamente. Seu olhar é morno. Não esboça um sorriso.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Estampas

A garota do vestido estampado sentava sempre no primeiro banco pertinho do motorista. Gostava de espelhos e sentava na frente para ficar se olhando no retrovisor. O motorista já era seu amigo. Trocavam olhares pelo retrovisor e conversavam boa parte do caminho. A garota do vestido estampado usava uma estampa diferente para cada ocasião. Em dias mais quentes, estampas de cores vibrantes, em dias frios, estampas miúdas, geralmente de flores. Estes eram meus favoritos. Seus cabelos longos e volumosos marcavam ainda mais aquelas estamparias. Nunca a via com outro tipo de roupa. Várias mulheres curculavam naquele ônibus, mas ela era a única que sempre usava vestidos, curtos, longos, médios, mas sempre estampados.Tinha inveja daquele motorista. Queria poder ser visto por ela. Descia do ônibus antes do meu ponto e eu a acompanhava pela janela até que sumisse do alcance de meus olhos. Era assim de segunda a sexta. Houve um tempo em que passei a sentir sua falta nos fins de semana. No domingo à noite já contava os segundos para poder vê-la no dia seguinte. Não sei explicar ao certo que tipo de sentimento me movia, mas comecei a desconfiar de que era paixão, mas uma paixão insegura, frágil, estranha. Assim que eu entrava no ônibus meus olhos se voltavam em sua direção e não se desviavam mais. Não sei que tipo de magia emanava daquela garota do vestido estampado. Chegava a sonhar com seus vestidos. O banco em que ela sentava geralmente era ocupado por algum velhinho. Era incrível como aquele lugar sempre estava ocupado, mas na primeira oportunidade que o encontrei vazio, sentei ao seu lado. Não trocamos uma palavra, sequer um olhar. Fiquei estático observando sua conversa com o motorista. Parecia uma estátua. Tinha medo de encostar nela e em seu vestido estampado. Quando chegou o seu ponto, desceu e eu continuei inerte, nem consegui acompanhá-la pela janela.

Alguns dias se passaram até que eu conseguisse mais uma vez sentar-me ao lado dela, mas essa vez foi decisiva. O motorista estava de férias e era outro que nos conduzia. Como ela não o conhecia, tive oportunidade de puxar conversa. Minha boca parecia ter o dobro de dentes quando lhe perguntei as horas. Os lábios estavam tão secos que tive a sensação de que partiriam. Não tive ideia mais criativa para iniciar uma conversa. Ela, pela primeira vez, olhou para mim. Nunca tinha reparado bem em seus olhos, eram grandes e expressivos e pareciam acumular todas as cores de seus vestidos. Respondeu furtivamente e virou-se para o lado. Então, recorri à segunda estratégia furada de puxar assunto e comentei sobre o tempo e o trânsito, que por sinal estava o caos de sempre. Ela apenas esboçou um sorriso e nada comentou. Minhas estratégias de aproximação já haviam esgotado, até que observei que carregava em seu colo um livro de Agatha Christie. Perfeito. Eu tinha toda a obra da rainha do crime. Comentei sobre o livro e perguntei se já tinha lido outros. Ela, um pouco incomodada com a pergunta invasiva, respondeu que era o primeiro que lia. Não sei se queria cortar o assunto ou se falava a verdade, mas acabou me dando motivos para prolongar a conversa. Como não foi muito receptiva, resolvi me calar. Quando desceu, a observei ao longe como de costume sumir no caminho.

Foi assim que conheci meu marido, em um ônibus que pegava todos os dias para o trabalho. Usava sempre vestidos e com muitas estampas. Tinha feito promessa para Santo Antônio. Sentou do meu lado um dia, conversou umas bobagens. Perguntou sobre um livro que estava lendo e daí não parou mais. Os lábios tremiam quando falou comigo pela primeira vez. Achei bonitinho, mas não dei muita conversa. Mais umas viagens juntos, algumas resenhas sobre os livros de Agatha Christie e o namoro começou. Casei com um vestido estampado para não contrariar o santo.

(Imagem: Flickr)

sábado, 4 de julho de 2009

Ainda sobre Michael Jackson

É no mínimo curioso ver como as pessoas geralmente só são reconhecidas depois da morte. Por que nunca renderam tantas homenagens a Michael Jackson em vida? Me refiro aqui à mídia e à sociedade em geral, porque seus fãs sempre lhe renderam muitas homenagens. Sempre as notícias que via a respeito de MJ giravam em torno do que se chamava de esquisitices e bizarrices. Seus últimos álbuns ao que me conta foram excessivamente criticados pela mídia. Os shows que aconteceriam em Londres, algo me diz que seriam amplamente desvalorizados pela crítica dita especializada. Não posso afirmar que seria asssim, mas desconfiava disso. A vida pessoal de MJ incomodava demais a muita gente e muitos tentaram com isso ofuscar o brinlhantismo de sua obra. Hoje, esses mesmos que tanto o julgaram e condenaram, lhe rendem inúmeras homenagens e passam a endeusar o artista. Como de repente MJ virou santo? Só agora reconhecem que teve uma infância sofrida, só agora procuram entendê-lo? Mas ele não era o pedófilo? Agora aceitam que ele era um Peter Pan? Curiosíssimo. E a mudança de cor? Agora concordam que tenha sido vitiligo? Mas não era ele que queria negar a raça? Quanta hipocrisia. Quem sou eu para afirmar que tudo que divulgaram sobre ele era falso ou verdadeiro... Eu também não sei ao certo o que de verdade havia em tantas notícias a respeito da vida de MJ. Mas sempre senti que ele era uma pessoa boa, independentemente de qualquer coisa que divulgassem sobre sua vida. Não acredito que tenha feito mal a qualquer criança. A sociedade o julgou em vários momentos. Também disseram que ele era gay. E se fosse? E daí? Em que isso interfere na vida de alguém ou na obra desse grande artista? Condenado pela sociedade e pela mídia, hoje enaltecido por elas. Talvez, se lhe tivessem rendido tantas homenagens e reconhecimento, como fazem hoje, em vida, ele não tivesse ido embora tão cedo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Inquietude na alma

Vontade de mudar. Ando descombinada das coisas deste mundo. Tenho pensamentos efervescentes durante a madrugada. Falta coragem para dar um passo diferente, à frente. Vivo em um grande labirinto e o caminho que sigo às vezes parece não ser o que me levará à melhor saída. Ainda não entendo bem o que se passa, mas sinto uma grande inquietude na alma. Receio a todo momento tomar a direção errada. Mas será que existe a certa? Talvez seja tudo uma questão de ponto de vista. Tenho mania de ponderar as coisas, mas a vontade que grita é de não ponderar mais nada.

(Imagem: Google)