segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Entre gritos e sorrisos


Com quem ama, grita.
Ao algoz, sorriso.
Resultado: culpa.
Solidão: castigo.


(Imagem: Google)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ninhos

De repente, começou a vislumbrar a possibilidade de sair do ninho. Desconhece as artimanhas do destino. Tem medo. Não é fácil abandonar a zona de conforto. Sentimentos múltiplos. Mas deseja seguir. Há muito sabe que é preciso não só sair da casca, mas também sair do ninho. Fora, tudo é incerto, mas atraente. É preciso seguir, ouve no canto de um pássaro. Porque a vida é efêmera e o ninho deve ficar vazio para que sejam construídos outros ninhos.

(Imagem: Google)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Porque hoje é dia do professor

Porque hoje é dia do professor e isso me toca diretamente. Professora for formação que fugiu da profissão. Rima feia, mas não importa. Sinto uma certa culpa por não ter honrado a missão. Abandonei a tarefa assumida pela estabilidade financeira, em busca da realização de planos que o dinheiro pode comprar. Vendida ao "sistema". Carrego essa culpa. Não lecionei por muito tempo, mas guardo boas lembranças dos meus alunos. Apesar de experiências altamente angustiantes, posso dizer que a maioria foi gratificante. Outra rima feia, mas realmente pouco importa. Sinto falta de meus alunos. Até os mais endiabrados me tratavam com carinho, guardadas algumas exceções. Uma turma que tive me chamava de psicóloga. Coversava muito com eles. Eram adolescentes e alguns me contavam segredos. Também diziam que eu era apaixonada (e não estavam errados), porque precisavámos estudar Camões e selecionei alguns poemas de amor. Uma forma mais fácil de fazer Camões chegar até eles. Que saudade! Eles gostavam que eu contasse as histórias dos livros, que infelizmente poucos liam (não eram alunos tão exemplares), mas gostavam de ouvir as histórias. Na sala de aula me sentia útil. Tinha a oportunidade de ajudar pessoas a pensar, a entender as coisas, a refletir sobre a vida, a desenvolver a criticidade. Hoje, no meu momento financeiro estável, a alma sempre anda inquieta. No meu atual ambiente de trabalho convivo com um sistema hierárquico, com jogos de poderes e vaidades que não combinam comigo. Gosto de autonomia e na sala de aula eu tinha. Espero que consiga resolver essa questão em algum momento. Tudo é possível. Pró, prozinha ou simplesmente professora. É o que sou. Porque isso me toca diretamente.

domingo, 11 de outubro de 2009

Em busca do melhor ângulo

Tenho formação católica, estudei em colégio de padres. Doces anos sob os princípios pregados pelas escolas salesianas. Guardo muitas lembranças boas dos meus tempos de escola. Passo em frente ao colégio e me emociono. Hoje, em um de seus muros está escrito "Uma vez Salesiano, sempre Salesiano". É verdade. É uma grande família. Eu cresci lá. Sinto saudades. Costumava brincar que existiam passagens secretas e segredos misteriosos que os padres escondiam. Acho que li Aghata Christie demais e tomei gosto pela espionagem. Lembro que um dos livros que mais gostei de ler na escola se chama "O gênio do crime". Não sei quem é o autor.

Então, católica por formação. Não muito praticante nos últimos tempos, talvez por ter consciência dos males que a igreja católica já praticou, talvez por não concordar com alguns de seus dogmas, talvez por saber que religiões funcionam como forma de exercer controle sobre as pessoas. Mas não consegui até hoje encontrar refúgio espiritual em outra religião. Às vezes digo que sou ecumênica, creio um pouco em cada coisa. Mas não é bem verdade. Há religiões nas quais definitivamente não creio.

Na igreja católica existem alguns sacramentos. O primeiro deles é o batismo. O que abre as portas para os demais. O necessário para que a pessoa se incorpore a Cristo e ao catolicismo. O batismo sempre teve um significado importante para mim. Não tanto pelos motivos citados, mas pela madrinha maravilhosa que minha mãe escolheu para mim. Melhor escolha não poderia ser feita. Minha madrinha soube e sabe exercer de forma irretocável sua função. Infelizmente, não posso dizer o mesmo sobre o padrinho e o mais curioso é que ele mesmo se ofereceu para a missão, mas... da mesma forma que se ofereceu para me apadrinhar, também decidiu se "desobrigar" da tarefa.

Hoje, tive o prazer de batizar o filho de minha madrinha. Criança abençoada. Luz de nossas vidas. Para isso, tive que fazer um "curso" de batismo, no qual achava que receberia aconselhamentos sobre a importância e significado de ser madrinha de alguém. Houve isso no curso, sim, houve, mas o que mais foi enfatizado a todo momento foram as coisas que deveríamos responder ao padre na hora do batismo. "Respondam direito para o padre não reclamar com a gente depois".

Dia do batizado. Igreja confusa. Batizado coletivo. Sete crianças. Pais, padrinhos e convidados agitados. Chuva abundante. Durante a celebração, mal ouvia o que o padre dizia. A preocupação maior era em tirar fotos pelo melhor ângulo. Vamos ver quem aparece mais. As respostas que deveríamos dar ao padre eram ditas por ele mesmo. "Quando eu perguntar, respondam isso, respondam aquilo". Mesmo assim, poucos respondiam, estavam muito ocupados a procura do melhor ângulo, como já disse. A beata da paróquia, assustada, respondia às perguntas do padre em voz alta para tentar salvar a celebração. Na hora de molhar a cabeça das crianças, uma confusão generalizada. Uns querendo passar na frente dos outros, sempre em busca do melhor ângulo, afinal aquele momento não poderia escapar aos flashes. Alguns ali sequer devem frequentar a igreja. Os filhos e afilhados talvez só retornem para realização de casamento, por pura tradição, ou moda, ou sabe-se Deus o quê. No curso que fiz antes do batizado, perguntou-se a uma mãe que estava presente o motivo pelo qual desejava batizar o filho. Sua resposta: "Não sei. Todo mundo batiza, também quero batizar o meu". Todos em busca do melhor ângulo.

Seja como for, nem eu mesma sei se boto fé nesse ritual católico. Deus sabe o amor que tenho pelo meu afilhado e o acompanhamento que petendo dar a ele por toda a vida. Esse é meu compromisso. O meu melhor ângulo não poderia ser registrado, pois não estava visível aos olhos, estava pulsando de felicidade e vontade de honrar minha missão.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Bordado

desvelo sem fim
os novelos de mim

anunciando o novo dia
como quem termina uma lida

cortando os fios do absurdo
como quem bebe absinto

gritando rouca ao sem-fim dos mundos
como quem gira no carrossel dos loucos

desvelo sem ter
o bordado a tecer

apenas riscando
opções de viver

(Rosy Feros)

Porque é tempo de desvelar-se.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Oi, tudo bem?

Interessante algumas relações que estabelecemos com o outro. Oi, tudo bem? E daí não passa. Há variações, por exemplo, Bom dia! Ou um cumprimento gestual, como um balançar afirmativo de cabeças ou um sorriso, às vezes amarelo, fugidio, outras vezes mais harmônico, mais aberto, depende do estado de espírito. Podemos encontrar infinitas vezes esse mesmo outro que daí não passa. Não se sabe o porquê, mas daí não passa. Faço muito isso. Recebo muito isso. Queria ir mais além. Relações rasas me irritam.