Em tempos de Copa do Mundo, no
país do futebol, o assunto do momento é a banana que atiraram em uma partida
entre o Barcelona e o Villarreal, na Espanha, ao jogador brasileiro Daniel
Alves, o macaco da vez. Eu, que não gosto de futebol e pouco acompanho as
notícias relacionadas a esse esporte, diante da repercussão do caso, acabei me
deparando com outras matérias sobre atos de racismo em campos de futebol
europeus contra os jogadores não somente brasileiros, mas todos aqueles de
etnia negra. Em viagem recente à Europa, inclusive estive na Espanha (pretendo
escrever um post sobre a viagem), vi muitos negros em condições de subemprego
como vendedores de bugigangas, souvenirs, produtos falsificados, ou em outros
empregos de menor valorização profissional, como por exemplo camareiros de
hotel. Então, ao misturar todas essas imagens na mente, lembrei-me de um livro
de Frantz Fanon, "Peles negras, máscaras brancas". O livro foi
escrito na década de 40 ou 50, não sei ao certo, mas ainda se mostra atual, por
uma fatalidade que vemos perpetuar-se em cada gesto como o ocorrido esta semana,
naquele campo de futebol, e seus desdobramentos. Uns criaram a campanha #somostodosmacacos.
Outros, em contraposição, levantaram a bandeira #somostodoshumanos. Certo é que
ambos apregoam o combate ao racismo, ao chamar a atenção para o fato de que
somos todos iguais.
E por que o livro de Frantz Fanon
me veio à mente? Por toda a simbologia presente em sua obra, na qual
aborda os efeitos do colonialismo e do racismo na sociedade, especialmente os
conflitos pós-coloniais ocorridos nas Antilhas, com destaque para a ilha da
Martinica, onde nasceu, local conhecido por suas plantações de bananas, onde,
inclusive, há um museu chamado Museu das Bananas, ponto turístico da ilha. Não
vou me estender sobre a obra de Fanon, mas recomendo a leitura para aqueles
interessados em explorar melhor o tema. A obra é extremamente simbólica,
apresenta análises muito pertinentes de propagandas, canções, filmes, dentre
outros, em que os negros são colocados no lugar de subalternos e, guardadas as
devidas proporções, as análises são bastante atuais.
No Brasil, perpetua-se a ideia do
multiculturalismo, da democracia racial, mas convivemos, ainda, com o racismo
velado, que faz parte do inconsciente coletivo, mesmo sendo um país altamente
miscigenado, temática que renderia muitas linhas... E aos olhos do mundo, o que
somos? Macacos? Para alguns (espero que seja somente alguns), sim, com toda a carga simbólica negativa que essa comparação possa ter, infelizmente. Somos todos macacos? Não, prefiro levantar a outra
bandeira de que somos gente, somos humanos, e digo isso não por alguma
deferência negativa de minha parte aos macacos, que por sinal eu adoro e são muito
inteligentes, mas porque entendo que
levantar a bandeira de que todos somos macacos, carrega a marca semântica
pejorativa que acompanha historicamente essa comparação.
Deixo aqui um trecho do prefácio
do livro de Fanon, para reflexão:
“O negro é um homem negro; isto quer dizer que, devido a uma
série de aberrações afetivas, ele se estabeleceu no seio de um universo de onde
será preciso retirá-lo.
O problema é muito importante. Pretendemos, nada mais nada
menos, liberar o homem de cor de si próprio. Avançaremos lentamente, pois
existem dois campos: o branco e o negro.
Tenazmente, questionaremos as duas metafísicas e veremos que
elas são freqüentemente muito destrutivas.
Não sentiremos nenhuma piedade dos antigos governantes, dos
antigos missionários. Para nós, aquele que adora o preto é tão “doente” quanto
aquele que o execra.
Inversamente, o negro que quer embranquecer a raça é tão
infeliz quanto aquele que prega o ódio ao branco.
Em termos absolutos, o negro não é mais amável do que o
tcheco, na verdade trata-se de deixar o homem livre.”
Um comentário:
É tão doloroso reconhecer o racismo.
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