domingo, 13 de outubro de 2013

Aquarela dos meus sonhos


"Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo / E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo / Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva / E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva / Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel / Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu / Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul / Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul / Pinto um barco a vela brando navegando / É tanto céu e mar num beijo azul..." 
 Na praça de Sultanahmet, em frente à Mesquita Azul

Ah, Toquinho, se soubesse quantas fantasias criei em torno dessa linda canção na minha infância... E que lugar tão distante cheio de castelos imaginava ser Istambul... Um lugar mágico que fez parte do meu imaginário infantil e renasceu este ano com tanta força que por uma série de motivos me atraiu para aquele lugar. Enfim, conheci Istambul e não somente essa cidade encantadora, mas também outros belos lugares da Turquia. As experiências que vivi foram tão especiais que guardarei eternamente em meu coração. Um lugar que sempre pareceu tão distante e de repente vi diante dos meus olhos com todo seu esplendor, sua magia, seus encantos.

Mergulhei nos livros de História e Geografia, atravessei a ponte do Bósforo, estive com um pé na Ásia e outro na Europa em poucos minutos, vivenciei a comunicação em vários idiomas, experimentei vários sabores, cores, sons, voei a mais de 800 metros de altitude num balão mágico! Incrível! Fantástico! Maravilhoso! Sensacional! Coisa de Deus! Não há palavras para descrever a magia que vivi naquele momento.

Passamos 10 dias na Turquia e não deu para conhecer tudo que gostaríamos (meu noivo e eu), mas nossa programação foi intensa! Do que visitamos, deixo aqui alguns relatos para ajudar aqueles que queiram conhecer:

Hotéis em Istambul: Os melhores em termos de proximidade dos principais pontos turísticos ficam na área de Sultanahmet, mas nosso pacote de viagem incluía um hotel mais afastado, o Titanic Business Bayrampasa. Não recomendo por ser afastado e não ter nada de interessante ao redor, mas se quiserem conforto, café da manhã farto, piscina aquecida, SPA... esse é o hotel ideal.

Dinheiro: A moeda local é a lira turca e não pense em levar reais brasileiros para trocar por lá, porque não encontram. Trocamos reais por euros aqui e lá trocamos de novo pela lira turca. Há várias casas de câmbio nas áreas turísticas e alguns passeios podem ser pagos em euros ou dólares. Optamos por usar somente o dinheiro local, com exceção do balão, que pagamos em euros (150 euros. Caro, mas muito bem pagos). Atualmente, a lira turca equivale a quase o mesmo valor do real.

Costumes: Vi gente de todo tipo, como diria minha vó, mas é notório que os costumes de lá são diferentes dos brasileiros. As mulheres se vestem de forma mais recatada de um modo geral, mas não são todas que cobrem os cabelos com lenços, pelo menos na área mais cosmopolita onde ficamos. Mas também vimos algumas mulheres de burca que nem os olhos colocavam para fora. Não consigo entender como uma mulher pode se submeter a essas tradições, religiões ou sei lá o quê, mas cada qual com seu cada qual... Várias vezes ao dia ouvimos um chamamento para rezar vindo das mesquitas, muito emblemático do local. Acho que vou ouvir aquele som sempre que me lembrar da Turquia. 

Guias: Em Istambul seguimos sem guias turísticos e dá para fazer isso perfeitamente, basta saber falar inglês que dá para se virar. Eu que não tenho fluência, mas entendo bem a língua e falo razoavelmente me virei sem maiores dificuldades. Digo isso porque falar turco é bem mais complexo, mas ainda assim, levei um guia de sobrevivência e arranhei alguma coisinha bem elementar. Fora de Istambul, tínhamos acertado pela agência de viagens um guia em espanhol e como eu também já estudei essa língua, foi supertranquila a comunicação. Encontrei muitos turistas brasileiros por lá e guias que falavam português também. Na falta de guia, GPS é bem útil para ajudar na localização. Nas atrações turísticas existem os audioguias. Basta colocar o fone de ouvido, escolher sua língua e um abraço. A maioria não tem a opção em português, mas espanhol e inglês sempre se encontra.

Alimentação: De um modo geral, gostei das comidas. Meu noivo que é cheio de restrições alimentares que não gostou muito. Os preços são razoáveis, os doces diferentes e açucarados (não usam leite condensado), vendem na rua muito suco de romã, castanhas, nozes, pistaches. Carne de carneiro por todos os lados nos kebaps. Comi um delicioso com molho de iogurte. As pizzas e pães também são gostosos. Não experimentei coisas muito diferentes, algumas pareciam bem gordurosas e não quis arriscar demais.

Transportes: Não usamos transportes públicos, mas pelo que vi são todos integrados, bondes, ônibus, trens. O trânsito é meio conturbado, com muitos engarrafamentos, até dia de domingo, mas não se compara ao caos da cidade onde moro. Pegamos alguns táxis e só tivemos problemas com um taxista que descaradamente adulterou o taxímetro, mas deve ser um pobre de espírito e isso não nos abalou. Depois disso, só pegamos em pontos de táxi ou na frente do hotel e correu tudo bem. Eles não falam inglês e a comunicação tinha que ser em turco ou mímicas, mas eu desenvolvi a técnica de escrever em um papel para onde queríamos ir, dizer gentilmente lütfen (por favor) e mostrar ao taxista o destino. Pronto, ele já sabia que não falávamos turco e seguia sem muitos papos até o destino. Alguns perguntavam de onde éramos, em turco misturado com inglês e quando descobriam que éramos brasileiros, falavam logo de futebol e de um jogador chamado Alex, do time Coritiba. Como não curtimos futebol, ficávamos “boiando” na conversa. Depois meu pai falou que ele jogou pelo Fenerbahçe, time turco. Parece que idolatram a criatura pela forma como falavam dele. No comércio também ouvimos muito o nome dele. Os turcos são loucos por futebol, fato. Um vendedor no Grand Bazaar nos mostrou todo eufórico uma foto dele com Taffarel, nosso ex-goleiro da seleção brasileira.

Passeios: Em Istambul, à noite, nosso destino certo era a rua Istiklal, para os turcos Istiklal Caddesi. Uma rua de cerca de 2 km que desembocava na praça Taksim, que tanto foi falada este ano por causa das manifestações antigoverno ocorridas há alguns meses. A Istiklal tem movimento dia e noite, de domingo a domingo, com muitas lojas, restaurantes, tudo! Nas transversais também encontramos movimento. Não sei descrever ao certo o que me atraiu nesse lugar, mas o certo é que “batemos ponto” lá quase todas as noites em Istambul. Em Sultanahmet, visitamos a Mesquita Azul, uma das mais emblemáticas, e a Aya Sofia, que ficam uma de frente para a outra. Lindas! Trabalhos artísticos divinos nos tetos, azulejos belíssimos, história riquíssima. Na mesquita, tivemos que entrar descalços e as mulheres com as cabeças cobertas. A Aya Sofia já foi mesquita, já foi igreja e hoje é um museu. Entrada: 25 liras turcas. Também passamos pelo antigo Hipódromo. Não deu tempo de visitarmos as Cisternas da Basílica, que ficavam a poucos metros, pois preferimos pegar um ônibus para fazer um city tour e atravessar o estreito de Bósforo para a parte asiática de Istambul, o que nos deu um bom norte da localização de todos os lugares que ainda pretendíamos visitar. Pegamos o ônibus na praça de Sultanahmet, o passeio durou cerca de 2 horas. Não me recordo quanto pagamos.

Istiklal Kaddesi


 Aya Sofia

Estreito de Bósforo


Ainda em Istambul, conhecemos o Palácio Topkapi e seu harém, que nos custou 25 liras + 15 liras do harém. Nesse palácio viviam os sultões e há muita riqueza exposta lá dentro. Fiquei apaixonada pelos tetos, vitrais e azulejos. Trabalhos belíssimos que resistem há séculos. Espetacular! Queríamos ir também ao Palácio Dolmabahçe, mas as filas para entrar eram muito grandes, tudo demorava demais e deixamos para outra oportunidade. Imagino na alta estação como deve ser nesses lugares, haja turistas de todas as partes do mundo. Então, ficamos no Topkapi mais um tempo e desfrutamos de um delicioso almoço dos deuses no restaurante Konyali com vista para o mar de Mármara. Lindíssimo lugar! Comida de primeira qualidade! Nos sentimos como os sultões!

Entrada do Palácio Topkapi

Vista do restaurante Konyali

Um dos tetos do Harém

Comprinhas também são bem-vindas, então fomos conhecer o Grand Bazaar e o Mercado de Especiarias ou Bazar Egípcio caminhando (com disposição dá para ir tranquilamente). Há de tudo um pouco nesses mercados, vendedores que falam todos os idiomas para captar os clientes, você se perde no meio de tantas coisas. Quem gosta de fazer umas comprinhas, são lugares indispensáveis para ir. Na saída de um desses mercados, visitamos a Mesquita Nova, mas eu não pude ficar muito tempo lá dentro, porque o lenço que coloquei na cabeça estava escorregando e fui convidada a me retirar do recinto... Nas mesquitas, há um lugar reservado no fundo para as mulheres rezarem, não podem se misturar aos homens. Ser mulher é para fortes, ainda mais nesse lugar...

Bazar Egípcio

A Torre de Gálata tem uma das melhores vistas da cidade e não poderia faltar em nosso roteiro. Istambul em 360°. Para subir, mais fila e 13 liras turcas. A vista de lá é magnífica, dá para ver a ponte de Gálata, onde é comum ver homens pescando, a ponte do Bósforo, algumas mesquitas, o lado europeu e o lado asiático da cidade. Na torre eu me vi na música de Toquinho, pois havia algumas gaivotas a voar no céu... Lindo! Uma pousou bem pertinho de mim...


 Gaivota na Torre de Gálata

Como meu parceiro de viagem é vidrado em shopping, fomos conhecer o Cevahir, que já foi considerado o segundo maior da Europa, pelo menos li isso em algum lugar. Um shopping como outro qualquer, lotado, não tinha lugar nem para sentarmos em uma das praças de alimentação. Encontramos até uma C&A por lá e se não soubesse que estava na Turquia, me sentiria em casa totalmente, quer dizer, nem tanto, porque as roupas tinham modelos um tantinho diferentes dos nossos, meio cafonas, diria. Para entrar no shopping passamos por detector de metais. Nunca tinha passado por essa situação em um shopping. Talvez eles tenham receios de ataques terroristas, mas achei bem válido. Poderia ser adotado no Brasil.


Cevahir Shopping

O post já está imenso e ainda nem saí de Istambul! Vamos à Esmirna, Éfeso e Pamukkale. Saímos de Istambul a Esmirna, onde visitamos as ruínas da antiga cidade de Éfeso. No caminho, conhecemos o Templo da deusa Artemis. Quando entrei em Éfeso me senti nos livros de História, parece que entrei na máquina do tempo. Vimos o Templo de Adriano e seu suntuoso teatro, a Biblioteca de Celso e muito mais. Curiosamente em Éfeso encontramos muitos gatos, aliás, há gatos em toda a Turquia pelo visto e os encontramos nos lugares mais inusitados. Depois desse mergulho na História, conhecemos o lugar que mais me encantou durante toda a viagem: Pamukkale, o castelo de algodão. Que lugar abençoado por Deus! Pedras calcárias, branquinhas, com deliciosas cascatas de águas termais. Fiquei fascinada por esse lugar! Vi o sol se por em Hierápoles, cidade balneária romana edificada sobre as cascatas. Dizem que lá há a maior necrópole do mundo antigo, mas a beleza de Pamukkale me prendeu tanto a atenção que não segui a guia para a necrópole.

Entrada de Éfeso

"Guardião" de Éfeso

Pamukkale

Passamos uma noite em Esmirna, num hotel top de linha, mas estavávamos tão cansados (pegamos muita estrada para visitar esses lugares) que nem memorizei o nome do hotel. Só me lembro que estava repleto de orientais! rs 

De lá, seguimos a Konya, no centro da Anatólia (parte asiática da Turquia). É uma cidade bem interessante, organizada, com várias casas com aquecimento solar e parecem ter boa qualidade de vida. Lá conhecemos a filosofia de Mevlana, filósofo místico que difundiu o sufismo e criou a ordem dos Derviches rodopiantes. Vimos uma apresentação dos Derviches em Istambul. Eles reproduzem uma dança na qual rodam em torno de si. Pelo que pude entender, os derviches são como monges, que seguem uma filosofia de abnegação e praticam com a dança rodopiante uma espécie de ritual. No Museu de Mevlana, conhecemos um pouco de sua história e visitamos sua tumba, pena que não pode ser fotografada.

Museu de Mevlana

A caminho da Capadócia, conhecemos uma cidade subterrânea com habitações trogloditas com profundidade de 45 metros. Na região de Konya e Capadócia, ficamos hospedados no Dinler Hotel, também de excelente qualidade. Na Capadócia, o melhor estava por vir... O voo de balão! Assim como quando fui a Rio de Janeiro, tinha o propósito de voar de asa-delta, na Capadócia, voltaria frustrada se não tivesse conseguido voar de balão. E voei, bem alto, com uma paisagem deslumbrante. Os balões formaram uma aquarela diante dos meus olhos, a aquarela cantada por Toquinho materializada bem ali. Fiquei anestesiada de emoção.

Entrada da cidade subterrânea

Vista do balão: aquarela dos meus sonhos!

Um brinde à felicidade!


Na Capadócia, nos divertimos muito no Vale do Goreme, onde conhecemos igrejas escavadas nas rochas, com afrescos ainda preservados, mas que não podíamos fotografar. ‘Roubei” uma foto deles meio apagadinha que parecia ser o desenho de São Jorge. Havia muitos brasileiros visitando o lugar, me senti em casa. Eu não vi um capítulo sequer da novela Salve Jorge, mas certamente as viagens ao local foram impulsionadas por causa da novela. Muita gente me pergunta se o que me motivou foi isso, mas meu caso de amor com esse lugar é antigo. A “culpa” é de Toquinho.rs

São Jorge

Vale do Goreme


A região é linda, as formações rochosas são um espetáculo à parte. Visitei também o Vale Çavusin, Pasabag, onde vi o que é conhecido chaminés de fadas, pois as formações rochosas lembram cogumelos. Por momentos eu vi as casinhas dos Smurfs. Momentos de infância em grau máximo. rs

"Casa dos Smurfs"


Ainda conhecemos o trabalho de artesãs locais em uma oficina onde fabricam os famosos e caríssimos tapetes turcos. São lindíssimos, mas os valores são bem salgados! Visitamos também um local onde vendem couro e jóias. 

Momentos mágicos, eternizados na memória. Aquarela dos meus sonhos!

Proteção!

Güle güle!

Nosso retorno para casa foi bastante desgastante, com direito a atraso de voo, perda de conexão, passar a noite em Londres, seguir em outra companhia aérea para Lisboa e de lá seguir para nosso lar, doce lar e descobrir que nossas malas não vieram conosco, o que gerou um certo estresse, mas boa parte do problema já foi solucionado e o que resta agora é agradecer a Deus pela oportunidade de ter vivido essa experiência maravilhosa. Teşekkür ederim!

3 comentários:

Leila disse...

Amiga, não pude deixar de me emocionar com seu relato. Saber q vc realizou um sonho de infância me deixou muito, muito feliz!! Que vc possa realizar ainda mais sonhos seus....estou simplesmente feliz por vc....te amo!! tô voltando pra ouvir isso tudo pessoalmente!!! Bjssssss

S* disse...

Fiquei fascinada, parece ter sido uma viagem fabulosa, cheia de história e de paisagens soberbas. Mas a comida não me seduz...

Andréia M. G. disse...

:-)