segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O quarto de Jack


(Aviso aos navegantes, contém um pouco de spoiler)
Seguindo minha corrida para assistir aos filmes indicados ao Oscar, hoje foi dia de ver "O quarto de Jack", inspirado na obra de Emma Donoghue. Imagine ter 7 anos de sua vida roubados? E durante esse tempo conceber um filho do seu algoz... O que você faria? Já dá para imaginar que se trata de um drama psicológico intenso e entendo que cumpriu bem o seu papel. As respostas para as perguntas que fiz são tão densas e complexas quanto o conflito psicológico vivido pelas personagens Joy, a mãe bem interpretada por Brie Larson, o que lhe rendeu a indicação ao Oscar, e seu filho Jack, interpretado magistralmente pelo ator mirim Jacob Tembley, que não foi indicado como melhor ator, mas deveria, embora eu ainda ache que a estatueta deva ir para Di Caprio. Sem detalhar o enredo para não bancar muito o spoiler, é uma trama que merece ser sentida e refletida por sua sensibilidade, por todos os símbolos que apresenta, pelo recurso da câmera subjetiva sob o olhar do menino, por vezes bastante instável no início do filme, o que acredito ter rendido um bom resultado, pela relação construída entre mãe e filho, pela representatividade da força de um para o outro nos anos de cárcere e fora dele também. Fazendo uma analogia breve com a obra "Alice no país das maravilhas", citada no próprio filme, vemos um menino no mundo de Alice às avessas, num pequeno mundo sem nenhuma maravilha, porém grandioso sob sua ótica, e quando esse mundinho se desfaz, o embate com a realidade existente a sua volta me fez lembrar "O mito da caverna", já que existe um choque entre a "realidade" construída pela mãe para o filho e a vida de fato real. Vale a pena conferir e por que não ganhar o Oscar de melhor filme.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

And the Oscar goes to...

Leiga que sou tecnicamente falando sobre a sétima arte, mas completamente apaixonada por ela, me arrisco a tecer alguns comentários sobre "O regresso". Com Alejandro Iñarritu por trás das câmeras, já é de se esperar uma grande obra, pois desde os tempos de Amores Brutos que ele ganhou minha admiração. Também destaco a fotografia do filme, que está magnífica do início ao fim, realmente uma direção fotográfica de tirar o chapéu para Emmanuel Lubezki. A obra em si é tensa e visceral, com cenas muito bem montadas e interpretadas, com poucos diálogos e um resultado fabuloso! E, para que o filme impacte tanto o espectador, muito também se deve à brilhante atuação de Leonardo di Carprio, que tem provado a cada ano que não é mais um ator frágil, que cresceu, evoluiu e merece o Oscar por sua atuação irretocável. A Academia deve isso a ele desde "O lobo de Wall Street" na minha humilde opinião. Espero que dessa vez ele tenha esse reconhecimento, pois conseguiu provar com esse filme que é um ator maduro.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Porque cada coisa é o que é...




A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

(Fernando Pessoa, por Alberto Caeiro)